InícioEducaçãoCovid-19: Pais e filhos adaptam-se à nova escola pela televisão

Covid-19: Pais e filhos adaptam-se à nova escola pela televisão

A pandemia de covid-19 obrigou a um método de ensino diferente. Com as escolas encerradas desde 16 de Março, as famílias deparam-se a partir de hoje com o novo desafio de assistir às aulas pela televisão.

São 11:15 e na Pontinha, concelho de Odivelas, Daniela, de 09 anos, a frequentar o 3.º ano, está sentada no sofá, em frente à televisão, a terminar a segunda aula do dia – Matemática – enquanto o irmão David, de 11 anos, ainda está à frente do computador a ler os ‘emails’ da professora.

A partir da “caixinha mágica”, os professores formulam um conjunto de problemas. “A que horas termina o espectáculo dos golfinhos que se inicia às 11.00?”, pergunta a docente, notando que tem a duração de 30 minutos.

Daniela está calada, retraindo-se em responder às questões. Terminada a aula, às 11:30, dirige-se imediatamente para a secretária instalada junto ao sofá, porque tem muitos trabalhos de casa para fazer. O pai, Fernando Joaquim, coloca o telemóvel a jeito, com as tarefas que a filha tem de fazer.

Questionada sobre o que achou das primeiras aulas, Daniela diz à Lusa que “foi um pouco difícil” sem o professor por perto.

O sofá é agora ocupado por David, aluno do 5.º ano, que se vai estrear na nova telescola, acompanhado pelo pai.

Se para os filhos a nova escola exige adaptação, para os pais também. Mais do que nunca, terão de acompanhar os seus educandos numa forma de ensino em que o professor está mais longe do que o habitual.

Fernando Joaquim está consciente disso. Destaca que faz questão de acompanhar os filhos nesta forma diferente de aprender e até tirou uns dias no trabalho para o poder fazer.

“À distância é difícil. Como vocês vêem, está ela aqui a fazer os trabalhos e está a ouvir do mano, incomoda sempre. Para eles é complicado, mas é assim”, referiu.

“Está sempre cá a mãe. Eu era para estar a trabalhar, mas lá consegui meter mais uma semaninha que é por causa do arranque aqui da telescola. Já sabia que ia ser complicado para eles”, acrescenta.

Para este pai, que vive com a mulher e os três filhos numa pequena casa com apenas dois quartos na nova telescola é importante, mas considera que não é muito cativante.

“Para ela, por exemplo, podiam aligeirar um bocadinho a coisa, meter assim mais bonecada para os cativar mais. Não acho que ela ficou muito satisfeita, porque estar ali a despejar aquilo tudo é complicado. E mesmo para o David, pelo que eu estou a ver agora, é estarem eles em frente a uma televisão a ouvir as pessoas a falar. Não os cativa assim muito”, argumenta.

Fernando Joaquim e a mulher, Ana Costa, contam que os professores têm mandado muitos trabalhos de casa e que a ginástica para gerir a casa, a família e o trabalho nem sempre tem sido fácil.

“Na sexta-feira o David tinha trabalhos para fazer até à meia-noite. Acabámos mesmo à meia-noite para enviar à professora. Torna-se muito complicado”, relata Ana.

Além disso, com dois computadores – um “melhorzito” e um portátil lento – é preciso disciplina. Não podem estar todos em uso ao mesmo tempo e o filho mais velho, com 18 anos, também tem trabalhos para fazer e aulas à distância.

Ainda assim, o pai ressalva que as crianças não têm passado o dia inteiro de volta dos trabalhos da escola. Chega a uma certa hora que “já chega” e apela a que os filhos se vão divertir, o que, no caso de David, significa, sobretudo, jogar ‘Fortnite’.

Entre a aula de Ciências Naturais e a de Português, David revela com timidez e pouco entusiasmo que percebeu “algumas coisas”, mas que não deu todas as matérias leccionadas pelas novas professoras.

Não está farto de estar em casa e diz que não tem saudades “de nada” da escola. “Só gosto de fazer (Educação) Física”, salienta.

Em termos de rotina, diz quando se levanta vai ver se tem trabalhos de casa para fazer. Caso não tenha, não volta para a cama.

“Vou para a Play (station)”, confidencia David, entre risos, ao que o pai complementa: “Quem diz a verdade não merece castigo”.

No entender de Fernando Joaquim, e apesar de reforçar a importância das aulas pela televisão, os alunos “deviam repetir o ano” e “as pessoas não devem de ter medo nem de ficar chocadas”.

“Mais vale chumbar um ano e ficarem mais bem preparados. Porque isto é bonito passar, mas o interesse aqui é que eles aprendam. E eu prefiro que eles saibam as coisitas para vida do que passem assim”, advoga.

Para já, é no sofá e a partir da televisão que David e Daniela vão prosseguir o seu ano lectivo, sem perspectivas de regressarem à normalidade. Os pais, conscientes do vírus, sublinham que também ainda não tiveram a coragem de os levar à rua desde que o país entrou em estado de emergência.

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