Os pescadores da pesca do cerco argumentam, com base em dados científicos, que o ‘stock’ de sardinha nas águas de Portugal e Espanha está recuperado e é sustentável, e querem pescar 30 mil toneladas já este ano.
Em nota de imprensa enviada hoje à agência Lusa, a Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO) afirma que os pescadores de Portugal e Espanha “tinham razão” e que o ‘stock’ de sardinha “está totalmente recuperado e é sustentável”.
A associação que representa os armadores da pesca do cerco baseia esta conclusão em dados científicos recolhidos pela campanha de investigação PELAGO 2020, realizada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) em Março, para aferir a quantidade de sardinha existente na costa portuguesa e golfo de Cádis, e cujos resultados foram apresentados aos pescadores numa videoconferência realizada durante o final da tarde e noite de sexta-feira.
“Os dados agora divulgados são excelentes e surgem na sequência de todos os dados positivos que as campanhas científicas realizadas em 2018 e em 2019, quer pelo IPMA, quer pelo Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO), vinham a evidenciar”, revela o comunicado.
O documento acrescenta que “já está atingido [em 2020] o principal objectivo” do Plano Plurianual de Gestão e Recuperação do Stock de Sardinha Ibérica, que era o de alcançar, no início de 2023, daqui a aproximadamente três anos, nas águas atlânticas da Península Ibérica, um total de cerca de 270 mil toneladas de biomassa de sardinha com mais de um ano de idade.
“Os dados agora divulgados da campanha PELAGO 2020 apontam, para essa mesma área, um total de 385.202 toneladas de biomassa de sardinha com mais de um ano. Fantástico”, assinala a ANOPCERCO.
Com efeito, de acordo com o relatório do IPMA a que a Lusa teve acesso, a biomassa de sardinha com mais de um ano de idade aumentou 153% em 2020 face a 2019 (de cerca de 152 mil toneladas para as 385 mil toneladas).
Com base nestes e noutros dados, os pescadores portugueses da pesca do cerco e as suas organizações de produtores manifestam-se “particularmente orgulhosos” em anunciar que o ‘stock’ da sardinha atlântica da Península Ibérica “foi claramente atingido e ultrapassado, depois de mais de 10 anos em que se situou abaixo daquele limite, tendo atingido o seu mínimo em 2015 com 117.929 toneladas”.
“Para nós, o facto de já em 2020 se ter transposto largamente o objectivo do Plano Plurianual de Gestão e Recuperação do Stock de Sardinha Ibérica, previsto para 2023, é a prova clara que os sacrifícios feitos pelo sector nos últimos cinco anos deram resultado e que contribuíram para que a sardinha ibérica atingisse os objectivos de sustentabilidade” preconizados pela União Europeia, refere a ANOPCERCO.
Já sobre o despacho governamental publicado na sexta-feira, que anuncia a reabertura da pesca da sardinha no período compreendido entre 01 de Junho e 31 de Julho, com um limite de descargas de capturas com a arte de cerco de 6.300 toneladas em Portugal – o que corresponde, segundo a ANOPCERCO, a um total ibérico de 9.500 toneladas – a associação de produtores diz que “esta limitação assume um carácter meramente indicativo”.
“Os dados que agora foram divulgados [pelo IPMA] permitem assegurar a possibilidade de, em 2020, serem capturadas mais de 30.000 toneladas de sardinha pelas frotas de Portugal e de Espanha”, defende.
Nesse sentido, a ANOPCERCO diz esperar que a comunidade científica e o Governo “promovam com rapidez e com clareza a qualidade dos dados agora divulgados pelo IPMA, por forma a eliminar de uma vez por todas o conjunto de teses catastrofistas que foram largamente difundidas e que se encontram totalmente desajustadas da situação actual do recurso sardinha ibérica nas águas atlânticas”.
Na nota, a organização representativa dos produtores sustenta ainda que o momento actual é “de grande orgulho e de satisfação”, saudando e agradecendo o “forte empenho” do Governo e do IPMA na realização da investigação “que permitiu a obtenção de dados tão importantes para o futuro da pesca da sardinha em Portugal”.
A ANOPCERCO agradece, igualmente, à tripulação do cruzeiro científico, à equipa técnica que o acompanhou e aos mestres e tripulantes das três embarcações de pesca que colaboraram na campanha científica PELAGO 2020, que “ficará na história como a campanha que validou a total recuperação e a sustentabilidade da sardinha ibérica”.