A basquetebolista Ticha Penicheiro, ex-internacional portuguesa e campeã da liga profissional feminina norte-americana (WNBA) em 2005, vai ser homenageada no domingo no campo de rua das ‘Traseiras’, na Figueira da Foz, que foi agora requalificado.
A requalificação do campo, localizado numa zona residencial na encosta entre o parque das Abadias e a zona turística do Bairro Novo, partiu da Câmara Municipal da Figueira da Foz, em parceria com a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB).
Numa nota publicada na sua página de internet, a FPB sublinha que a intervenção “homenageia uma das maiores referências da modalidade em Portugal”, acrescentando que Ticha Penicheiro – que começou a jogar basquetebol precisamente no campo das Traseiras – “acabou por ter intervenção directa na escolha da imagem desta requalificação”, a qual, em tons de verde, amarelo, preto ou roxo e entre outros motivos, mostra uma figura com um equipamento com o “seu” número 21 e a assinatura da própria atleta, constatou a agência Lusa no local.
O presidente da Câmara da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, lembrou que o campo das Traseiras “tem uma visibilidade acrescida porque lá praticaram basquetebol uma série de basquetebolistas famosos, dos quais, na realidade, a Ticha é a mais famosa, a nível mundial e começou ali a lançar as primeiras bolas”.
O presidente da Câmara frisou, no entanto, que embora a requalificação homenageie Ticha Penicheiro, também homenageia, “embora não implicitamente”, Pedro Carvalhal, ex-basquetebolista que ali nasceu e viveu e que, nos últimos anos, cuidou do campo que estava ao abandono e da sua reactivação, com os filhos e amigos destes.
“O Pedro Carvalhal também está a ser homenageado, porque se o campo não tivesse retomado a prática (do basquetebol) não fazia sentido estarmos a gastar dinheiro do erário público. Hoje, o campo tem uso e isso deve-se à actividade que o Pedro Carvalhal ali desenvolveu”, afirmou Carlos Monteiro.
Para a cerimónia de domingo, além da presença de Ticha Penicheiro, o município convidou formalmente os moradores do bairro onde se situa o campo das Traseiras: “E é evidentemente aberta a todos os que ali agarraram numa bola de basquetebol e se quiserem associar”, disse Carlos Monteiro.
Em declarações à Lusa, Pedro Carvalhal, manifestou-se “muito contente” pela requalificação, assumida pelo município e pela FPB, do espaço público de que tem vindo a cuidar e que estava degradado e abandonado há vários anos, com as tabelas partidas.
“Custava-me muito, tendo nascido ali, tendo jogado ainda em terra batida e depois em alcatrão, ver aquilo tudo degradado e a ser um antro de droga, que era o que era”, precisou Pedro Carvalhal.
Um dia, num almoço entre amigos, fez o desafio a um técnico camarário da área do desporto: se as tabelas fossem repostas, ele tratava da envolvente.
Assim sucedeu e Pedro Carvalhal pintou o campo, plantou árvores, removeu “escorregas todos partidos” do jardim anexo e criou instalações artísticas – um jogador de basquetebol e bolas de diversas cores, entre outras – usando materiais doados ou que recolheu em “restos de obras” de construção civil.
A requalificação por si iniciada “começou a ter impacto” quando o campo das Traseiras voltou a receber jogadores “às dezenas, que vão para lá às duas da tarde e saem de lá às oito da noite, agora outra vez. É uma grande satisfação”, notou.
O filho, Zé Pedro, também ele atleta de basquetebol, passou a organizar com amigos o Torneio das Traseiras, duas edições (2018 e 2019) “que foram um sucesso” e uma terceira impossibilitada pela pandemia de covid-19 em 2020.
“Eu sempre disse que o desporto é de rua e as pessoas, havendo boas condições e um ambiente saudável, praticam desporto na rua, mesmo que muitos não se convençam disso”, sublinhou Pedro Carvalhal.
Sobre a homenagem de domingo, sustentou que Ticha Penicheiro “atingiu o estrelato, chegou à NBA, foi campeã, é uma pessoa conhecida e merece. Eu fico contente que tenham feito as obras, porque era o meu objectivo, a reabilitação do campo e projectá-lo para os anos seguintes”.
“Tenho pena é que as tabelas não sejam em fibra de vidro. É uma lacuna, faz-se um investimento destes e as tabelas são as que já estavam e mudam só os aros, não dá para entender”, lamentou Pedro Carvalhal.