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Recordando uma figueirense – Cristina Torres

Cristina Torres dos Santos nasce a 21 de Março de 1891. Cedo começa a trabalhar como costureira e à noite frequenta a Escola Comercial da Figueira. Em 1911, funda a Fraternidade Feminina, Associação de Instrução e Beneficência responsável pelo funcionamento de uma escola nocturna para raparigas.

Um ano depois, Cristina Torres vai para Coimbra, onde continua a trabalhar como modista enquanto estuda no Liceu e, posteriormente, na Faculdade de Letras da Universidade. Até 1924 exerce o professorado na então designada Escola Industrial e Comercial.

As actuais gerações têm o seu nome perpetuado numa das suas principais salas de aula. No seu percurso como docente, Cristina Torres lecciona, também, em Montemor-o-Velho e Braga. Participa no Congresso Pedagógico Regional das Escolas Técnicas Elementares , no Porto, em 1927.

Em Outubro de 1931, intervém noutro congresso realizado em Lisboa, defendendo o ensino das crianças pobres. “As escolas, sobretudo as técnicas, são frequentadas por rapazes e raparigas pobres, os livros de estudo são caros e muitos alunos têm a necessidade de trabalhar”, referiu então. Cristina Torres luta sempre contra a desigualdade e a violência.

Como professora, educa e fomenta o acto de pensar. Defende que não se deve bater nos alunos, que é preciso dar livros às crianças pobres, impedir o trabalho dos menores, regulamentar o mínimo dos salários, regulamentar a entrada e a saída das crianças nos estabelecimentos e nas fábricas, fazer da escola técnica a continuação da escola primária, sem limitar as entradas.

Mulher de causas, de liberdade e de empenhos, sempre luta contra o regime fascista e repressor. Em consequência é punida pelo Estado Novo. Cristina Torres expõe as suas ideias na imprensa regional da Figueira e de Coimbra, aborda as questões feministas, educativas e políticas, para além de publicar, ainda que esporadicamente, poemas e contos para crianças.

Utiliza, por vezes, o pseudónimo de Maria República, nos artigos de carácter político, e Nôquim, nos textos escritos para aos mais novos.

Em Dezembro de 1932, aquando da abertura o Liceu Municipal da Figueira, é forçada a ir para Braga pelo mesmo regime que detestava. Anos mais tarde, em 1949, é definitivamente afastada do ensino, com reforma compulsiva devido a ter participado na campanha política de Norton de Matos à Presidência da República. Cristina Torres regressa à Figueira.

Vive de explicações e continua a destacar- se no combate ao Estado Novo, integrando a Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática realizado em Aveiro, em 1973. É com redobrada alegria que Cristina Torres vive 25 de Abril de 1974! Apesar da idade, ajudada por Carlos Lourenço (vulgo Carlos Simpatia), segura, com emoção e felicidade, a bandeira nacional, numa manifestação posterior que vinca a liberdade alcançada e muito desejada. Este foi um momento que a fotografia imortalizou para a história da Figueira.

A 24 de Agosto de 1974 profere o seu último discurso: “Ver-vos a vocês todas, às raparigas, às mulheres casadas, a todas aquelas mulheres que pudessem colaborar na vida da nação, que tirassem um bocadinho do seu dia, das suas horas de descanso, para lerem, para se cultivarem, para não terem medo da vida, porque a vida não nos mata, nós é que a matamos!”

Cristina Torres dos Santos, que Joaquim Barros de Sousa biografou, morre em 1 de Abril de 1975. O seu nome está perpetuado na terceira escola secundária da cidade como preito de admiração, respeito e louvor, sobretudo pelo trabalho desenvolvido em prol da liberdade.

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