Uma investigação científica ligada à produção de ouriços-do-mar em aquacultura, realizada no laboratório da Universidade de Coimbra (MAREFOZ/UC) localizado na Figueira da Foz, vai servir de base a um projecto empresarial que visa a comercialização daquele produto.
A empresa em causa, uma ‘startup’ já está instalada na Incubadora de Empresas da Figueira da Foz, no parque industrial da Gala, irá começar o seu trabalho com o apoio do laboratório de investigação e com base no conhecimento adquirido no projecto “OtimO – Optimização dos processos de produção de Ouriço-do-mar” em aquacultura, desenvolvido por uma equipa de investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
“O que vai suceder, no imediato, é esta empresa começar o seu caminho e o seu trabalho neste tipo de produção, contando com o nosso apoio enquanto laboratório de investigação e também havendo aqui uma parceria nas instalações que foram criadas e desenvolvidas no âmbito do OtimO”, disse à agência Lusa Tiago Verdelhos, coordenador do projecto científico.
“Um dos objectivos principais do projecto tinha em vista não só a componente de investigação científica de andar em busca de métodos inovadores, que possam contribuir para o desenvolvimento desta aquacultura, mas conseguir que haja uma transição para um projecto concreto de aplicação comercial. E isso, efectivamente, vai acontecer”, reforçou.
O projecto OtimO, que termina formalmente no final do mês, depois de quase dois anos de investigação, foi desenvolvido “à escala de laboratório, uma escala piloto”, mas a parceria com o sector privado implicará, no futuro, que a empresa “siga o seu caminho na vertente da procura de investimento e desenvolvimento de uma estrutura de produção já com uma escala diferente”, notou Tiago Verdelhos.
Para já, a parceria entre a investigação e a produção empresarial começará nas instalações criadas no MAREFOZ, nomeadamente a primeira fase de desenvolvimento dos ouriços-do-mar.
“Recorrer a organismos do meio natural para dar início à reprodução é uma das fases mais delicadas e mais difíceis neste tipo de aquacultura. Mas o objectivo é que seja implementada com sucesso”, frisou o investigador.
Tiago Verdelhos observou, a esse propósito, que vários projectos, em diversos países, que tentaram explorar a produção de ouriços-do-mar em aquacultura, “ainda não o conseguiram de forma eficaz”.
“É aí que vamos dar o nosso maior apoio. A fase seguinte é a do crescimento e engorda, poderá ser feita também nas nossas instalações, a uma escala pequena, mas depois, para se manter uma empresa e ter capacidade de abastecer o mercado, vai necessitar de dar outros passos e alargar a sua produção”, reafirmou.
Segundo Tiago Verdelhos, a empresa que quer produzir ouriços do mar em aquacultura terá duas possibilidades diferentes de o fazer, uma delas replicando o que os investigadores da Universidade de Coimbra fizeram, usando “tanques abertos” para a produção.
“Conseguimos que se desenvolvessem e crescessem, tem potencial, mas tem algumas limitações: é preciso tentar controlar condições de temperatura, salinidade e qualidade da água que, por vezes, são complicadas”, avisou.
A outra possibilidade, “com mais investimento” passa pela criação de um circuito fechado, com tanques interiores, “já com condições mais controladas”.
“Aumenta-se a probabilidade de sucesso, mas também aumenta o investimento necessário. É todo um novo caminho que (a empresa) vai começar”, aduziu o investigador do MAREFOZ.
Recentemente, numa apresentação do projecto OtimO, Tiago Verdelhos assinalou o “elevado valor” do produto ‘gourmet’ que são os ouriços-do-mar, que possui uma “procura crescente” no mercado internacional.
A sua criação em aquacultura tem, de acordo com o coordenador do OtimO, “vantagens económicas e ecológicas”, desde logo um elevado potencial de rendimento, capacidade de abastecimento do mercado e a mitigação da sobre-exploração de recursos naturais.
Como limitações está a reprodução em cativeiro e o crescimento e desenvolvimento das gónadas (as ovas do ouriço-do-mar), nomeadamente a tendência para maximizar a sua rentabilidade com grandes densidades populacionais, com reflexo na qualidade do produto final.
O investigador da UC fez um paralelo com as galinhas caseiras e o frango de aviário.
“O frango de aviário consegue-se produzir rapidamente, mas a qualidade, obviamente, não é a mesma. São tudo desafios para o futuro e para o sector e qualquer empresa que tente fazer uma produção desta espécie em particular ou de qualquer outra, tem sempre de tentar melhorar todos os processos relacionados com essa produção. Podem produzir muito, mas se o produto não tiver qualidade, depois no mercado acaba por não ter aceitação”, sublinhou.