O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) está disponível para aplicar um novo modelo de gestão ao parque florestal da Serra da Boa Viagem em acordo com o município da Figueira da Foz.
Esta possibilidade, avançada à agência Lusa por Nuno Banza, presidente do ICNF, agrada ao presidente da autarquia, Pedro Santana Lopes, que assumiu que a Figueira da Foz “quer, em condições a acordar, como é evidente”, passar a ter a gestão do parque florestal Manuel Alberto Rei.
“Acho que não seria digno das funções que exerço se não aproveitar essa oportunidade, se ela se confirmar”, declarou Pedro Santana Lopes.
“Seria muito importante, porque, obviamente, é muito difícil os organismos da administração central assegurarem a gestão de todo o território, nomeadamente de um parque/serra com estas características. É quase um prolongamento da malha urbana, faz a interface entre duas áreas do concelho. Tem todas as razões para a autarquia ter responsabilidades, não tenho dúvida nenhuma disso”, argumentou o autarca.
Esta zona de lazer, de características turísticas, começou a ser florestada em 1913, por iniciativa do regente florestal que lhe dá o nome. Está incluída no maciço da serra da Boa Viagem (oficialmente designado como Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha), uma área de 418 hectares que se estende até ao monumento natural do Cabo Mondego e faz fronteira entre a freguesia urbana de Buarcos e São Julião e a de Quiaios.
Possui uma rede viária de cerca de 33 quilómetros (km) de estradas e caminhos, 13 dos quais asfaltados e parte a necessitar de intervenção de reparação urgente.
Destruída, em grande parte da sua área, por um enorme incêndio florestal em Julho de 1993 e afectada por outro em Outubro de 2005, a serra da Boa Viagem – que é um anfiteatro natural com vista sobre a cidade, a foz do rio Mondego e o litoral a norte e a sul – sofreu ainda com a passagem do furação Leslie, em 2018, que destruiu parte do coberto vegetal original (poupado às chamas 25 anos antes), tendo estado encerrada aos visitantes durante vários meses para remoção das árvores caídas e reposição das condições de segurança.
Na conversa com a Lusa, questionado sobre se o ICNF vai manter a gestão integral da serra da Boa Viagem, Nuno Banza vincou a colaboração que aquele organismo tutelado pelo ministério do Ambiente vem desenvolvendo com diversas Câmaras Municipais pelo país fora.
“Não temos nenhuma reserva em trabalhar com as autarquias, trabalhamos com as autarquias no país todo, temos imensas situações de gestão partilhada e até de gestão delegada (…). Depois, apesar de haver muitas áreas florestais que têm uma vocação de produção [de madeira], o que temos vindo a fazer é, naquelas matas que são matas de enquadramento ou que estão muito próximas das áreas urbanas, ou que têm uma grande utilização por parte das pessoas, procurar encontrar para essas matas um modelo de gestão que não passa, exclusivamente, pela exploração florestal”, argumentou o presidente do ICNF.
Essa abertura para um novo modelo de gestão de espaços florestais de lazer, como o da serra da Boa Viagem, ocorre numa altura em que, segundo Nuno Banza, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas passou a ter “mais capacidade de intervenção”.
“Recrutámos, nos últimos três ou quatro anos, um número de pessoas significativo, temos mais meios, conseguimos aceder ao PDR [Programa de Desenvolvimento Rural] para projectos do próprio Estado. Temos, neste momento, mais de 14 milhões de euros de investimentos, espalhados pelo país, em muitas matas nacionais, perímetros florestais, espaços públicos, que começam agora a ter visibilidade”, disse Nuno Banza.
E aludiu a uma acção de remoção de plantas infestantes como as acácias e limpeza de zonas e caminhos florestais, ocorrida já este ano na serra da Boa Viagem, o que já não sucedia (fora os incêndios e as catástrofes naturais) há várias décadas.
“Do ponto de vista da gestão, e a serra da Boa Viagem é um bom exemplo disso, estamos a conseguir intervir, fazendo algumas intervenções que, provavelmente, se percebem melhor agora, e que eram necessárias. E isso significa que, no futuro, estamos perfeitamente disponíveis para colaborar com a Câmara da Figueira e, com outras câmaras, temos vindo a estimular esse tipo de utilização”, sublinhou Nuno Banza.