A Câmara da Figueira da Foz adjudicou hoje a obra de reabilitação e consolidação do Mosteiro de Seiça, imóvel histórico e de interesse público, que está em vias de ser reclassificado como Monumento Nacional.
A obra, orçada em cerca de 2,7 milhões de euros, hoje adjudicada à empresa Teixeira Duarte e que terá início, segundo o presidente da autarquia, “a muito curto prazo”, passa pela consolidação da fachada monumental em ruínas da igreja datada dos séculos XVI e XVIII, e reabilitação do edifício monástico adjacente.
“Este trabalho, esta adjudicação em fim de mandato, obrigou a várias coisas. Primeiro, levou-nos a uma espera de dezenas de anos, desde a aquisição do edifício (pela Câmara, em 2001) até hoje. A realidade é que o edifício foi adquirido e ficou por lá”, afirmou Carlos Monteiro, durante a reunião camarária.
“E agarrado a esse edifício ficou uma dívida de 92 milhões (respeitante aos três mandatos do PSD, anteriores aos executivos do PS), que nós herdamos em 2009. Esta é a parte da explicação para o atraso (nas obras)”, argumentou o autarca.
O autarca adiantou que a “outra parte” que resultou, agora, na adjudicação dos trabalhos, deriva da “preocupação com o erário público” e da reclassificação como Monumento Nacional.
“Para podermos concorrer a fundos comunitários, tínhamos de reclassificar o edifício como monumento nacional. E hoje temos fundos comunitários e esta intervenção, de 2,7 milhões, é comparticipada apenas em 15% pelos fundos próprios da Câmara Municipal. Estes trabalhos demoram tempo e é esta a explicação porque é hoje (a adjudicação). A empresa, após esta adjudicação, irá a Tribunal de Contas e a muito curto prazo a obra pode iniciar-se”, frisou Carlos Monteiro.
Intervindo na reunião, Carlos Tenreiro, vereador eleito pelo PSD mas ao qual foi retirada a confiança política, lembrou a “carga histórica profunda” do Mosteiro de Seiça, localizado no sul do concelho, na freguesia de Paião, cujas origens – que não o edificado atual – remontam à fundação da nacionalidade.
“Quando percebemos o tempo que levou a conseguirmos consolidar uma situação que permitisse a recuperação daquele edifício (…) seja o que for feito vai ser feito pela positiva, vai revitalizar uma existência histórica secular e é motivo de regozijo para todos nós”, declarou Carlos Tenreiro.
Ouvido pela agência Lusa, o arquitecto camarário Rui Silva explanou, em traços gerais, a intervenção no Mosteiro de Seiça, que passa pela consolidação da fachada da igreja “de modo a ser visitável, na ruína em que está, mas em condições de absoluta segurança”, e pela reabilitação da parte monástica adjacente.
“Tudo o que é adulteração é para ser retirado”, explicou Rui Silva, aludindo, nomeadamente, aos restos de uma fábrica de descasque de arroz, que ali laborou desde o início do século XX até 1976, mas também ao arborizado que, ao longo de décadas, se desenvolveu no topo das duas torres da fachada da igreja e que “terá de sair”.
“É o que está a dar cabo do edifício”, sustentou.
O único vestígio que ficará da fábrica de descasque de arroz é a chaminé com dezenas de metros de altura, onde habitualmente nidificam cegonhas, localizada na lateral do Mosteiro, entre este e a linha ferroviária do Oeste.