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“Consideramos prioritário travar a degradação dos corredores verdes da cidade” – Rui Curado da Silva, BE

O Figueirense colocou algumas questões aos diversos candidatos com o intuito de angariar mais informações sobre os seus planos, projectos e intenções, ajudando os cidadãos eleitores a decidir a sua opção de voto. Eis o que obtivémos junto do representante do Bloco de Esquerda, Rui Curado da Silva.

Rui Miguel Curado da Silva tem 50 anos e é licenciado em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra e doutor em Física pela Universidade Louis Pasteur, Estrasburgo, França. Actualmente é investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas em Coimbra, onde lidera o Grupo de Instrumentação para o Espaço (i-Astro). É um dos coordenadores da Concelhia do Bloco de Esquerda da Figueira da Foz e é membro do Departamento Internacional do Bloco de Esquerda.

Como pretende devolver a cidade às pessoas? Estratégias pensadas?

O actual paradigma urbanístico resulta de um desvio do centro de gravidade da cidade para longas avenidas periféricas ladeadas de grandes superfícies comerciais, obrigando os figueirenses à utilização intensiva do automóvel para realizar as suas compras diárias e para desfrutar dos seus momentos de lazer. Este é um modelo ultrapassado, do séc. XX, quando as alterações climáticas e a escassez dos combustíveis fósseis ainda não eram problemas reconhecidos pela comunidade internacional. Propomos uma revogação deste modelo e uma nova planificação urbanística em que a organização das actividades económicas e socioculturais responda à urgência da luta contra as alterações climáticas, valorizando o comércio local, o circuito curto e uma mobilidade menos voraz dos combustíveis fósseis, ancorada em redes de transporte público limpas e em meios de mobilidade suave.

É fundamental estender a rede de vias para a mobilidade suave a todo território do concelho, bem como a sua ligação aos concelhos vizinhos. Propomos ciclovias mais simples, definidas por simples marcações pintadas no solo, acompanhadas de correcta sinalização, que poderão ser implementadas mais rapidamente e estendidas a quase todas as vias do concelho, em vez dos actuais pisos dedicados, que requerem intervenções mais complexas, morosas e caras. O aumento da largura dos passeios e das áreas pedonais são medidas fundamentais para fomentar a mobilidade suave e a diminuição das emissões de gases de efeito de estufa.

Nas freguesias fora da malha urbana da cidade, os peões, incluindo idosos e crianças, deslocam-se através de micro-passeios ou pura e simplesmente sofrem da ausência de passeios, de deficiente sinalização e do mau estado das próprias vias. As armadilhas rodoviárias para os que se deslocam de motorizada ou de carro são imensas.

Consideramos uma prioridade reformular as vias e a sinalização rodoviária das freguesias rurais, onde cronicamente os peões sofrem da falta de conforto e de segurança nas suas deslocações quotidiana.

Proporemos a implementação de um regime e de instrumentos de gestão necessários para proteger, conservar e fomentar o arvoredo urbano, onde o executivo tem enveredado por intervenções mal fundamentadas aplicando soluções simplistas, como podas drásticas e abates.

Consideramos prioritário travar a degradação dos corredores verdes da cidade, implementar a sua reabilitação e a sua devolução à sua cidade.

O turismo é o foco ou outras áreas de negócio sobrepõem-se à dinâmica prevista? 

A actividade industrial tem um peso económico mais relevante no concelho do que o turismo. No entanto, o turismo deverá ser sempre um dos principais focos das actividades económicas da cidade, desde logo porque é uma estratégia económica errada colocar todos os ovos no mesmo cesto. As actividades económicas da Figueira devem por isso ser diversificadas e, se pretendemos ter uma cidade com capacidade de estar à frente do seu tempo, será essencial desencadear a transição ecológica da economia. O sector do turismo na Figueira deve assumir também os novos desafios para o combate às alterações climáticas, que passam também pelas exigências de uma clientela cada vez mais consciencializada para as boas práticas ambientais. O controlo do consumo energético, da utilização de plásticos, a reciclagem, o respeito pelos recursos marinhos, as boas práticas de produção alimentar, os produtos biológicos, locais e artesanais, são preocupações que deverão estar enraizadas na futura estratégia turística do concelho da Figueira.

O potencial turístico da cidade poderá ser ampliado e menos dependente da sazonalidade se enveredarmos por soluções de turismo com a natureza e não contra a natureza. A estratégia turística deverá assumir por completo a atlanticidade do concelho, a identidade de um mar de forte ondulação, temperaturas frescas ou os ventos costeiros intensos. Uma atlanticidade assumida encerra em si um potencial turístico moderno, menos dependente da sazonalidade, dependendo mais de turistas que buscam ambientes costeiros autênticos, parcialmente selvagens, arejados e sãos. O próprio vento representa já um nicho estabelecido de turismo de lazer e de desporto, ao qual ainda não se deu a devida valorização no concelho. Outra vertente mal explorada do turismo local é a sua articulação com circuitos turísticos regionais.

Se não vencer as eleições, aceita integrar o executivo camarário?

Essa decisão depende em grande medida da relação de forças entre os vários partidos que elegerão vereadores, bem como do programa proposto pelo partido vencedor.

Os figueirenses sofreram os efeitos devastadores do Leslie. As desregulações climáticas ocorridas recentemente na Europa poderão indicar que o aumento de frequência de fenómenos climáticos mais extremos está em curso. Para o Bloco de Esquerda é essencial que a transição ecológica no nosso concelho tenha início já no próximo mandato.

Pretendemos acelerar a implementação das metas internacionais de combate às alterações climáticas. Os jovens e as próximas gerações merecem a nossa intervenção agora e não quando o processo de desregulação climática se tornar irreversível. Será condição essencial para o Bloco integrar um novo executivo camarário que seja estabelecido um compromisso sério e ambicioso para que a Figueira possa vir a ser um exemplo de concelho na linha da frente da transição ecológica.

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