A produção nacional de milho mantém-se estabilizada nas 830 mil toneladas anuais, embora Portugal tenha de importar dois terços do cereal que consome, disse o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS).
Em declarações à agência Lusa, Jorge Neves salientou que a produção se tem mantido estável, “oscilando de acordo com o preço mundial, que nos últimos anos se tem mantido inalterado, com surgimento de novos grandes produtores mundiais”, como é o caso do Brasil, Ucrânia e Argentina.
“Há agora uma incógnita, que tem a ver com o que vai acontecer à produção de alimentos. As projecções apontam ainda para um crescimento muito intenso da população mundial até 2050 e há que pensar como alimentar estas pessoas e, ao mesmo tempo, garantir o equilíbrio das condições ambientais do nosso planeta”, sublinhou.
Segundo o dirigente, esta questão pode ser, “ao mesmo tempo, uma oportunidade para a produção de milho em países como Portugal, com pouca expressão na produção, mas que ainda ocupa vastos hectares de milho no território”.
No entanto, Jorge Neves considera que a manutenção ou aumento da produção em território nacional tem pela frente um grande desafio, que passa por Portugal “conseguir manter o equilíbrio em termos da distribuição demográfica, ocupação do território e a própria soberania alimentar do país”.
O presidente da ANPROMIS entende que Portugal tem de definir “se pretende continuar a manter uma actividade económica no interior ou se quer concentrar as pessoas todas no litoral a viver como pretensa prestação de serviços, e aí o turismo conta, mas não chega”.
“Vemos o interior de outros países com ocupação intensa porque há políticas para a fixação de pessoas no interior. Portugal não tem tido essa preocupação até agora, deixando o interior ao abandono e acho que esse é o grande desafio para o futuro”, perspectiva.
A ANPROMIS realiza na quarta-feira feira em Coimbra, no Convento São Francisco, o 10.º Colóquio Nacional do Milho que, à data de hoje, contava com 630 participantes inscritos, entre produtores, cientistas, estudantes e responsáveis políticos, num debate sobre o papel da agricultura nos grandes desafios da actualidade.
A iniciativa encerra com a intervenção da ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, prevista para as 17h45.
Segundo Jorge Neves, a realização do colóquio em Coimbra “é uma justa homenagem à tenacidade e resiliência dos agricultores da região Centro, especialmente afectada pelos incêndios de 2017, pela tempestade Leslie em 2018, e, mais recentemente, pelas cheias que causaram avultados prejuízos no vale do Mondego, trazendo à evidência a necessidade e urgência de mais investimento na modernização das infraestruturas hidroagrícolas da região”.