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“Todos à Manif” na Figueira da Foz juntou 2.300 crianças a celebrar a liberdade

Cerca de 2.300 crianças e jovens dos agrupamentos de escolas da Figueira da Foz manifestaram-se ontem pela paz e liberdade, numa iniciativa inserida nos 50 anos do 25 de Abril.

Promovida pelo Plano Nacional das Artes (PNA), em parceria com o município da Figueira da Foz e agrupamentos de escolas locais, a manifestação saiu da Escola Dr. João de Barros, passou pelo Parque das Abadias e Jardim Municipal, e terminou em frente aos Paços do Concelho, na praça da Europa Manuel Alfredo Aguiar de Carvalho, num percurso de cerca de dois quilómetros, animado por várias palavras de ordem.

Aquando da paragem no Jardim Municipal, o momento foi assinalado pela colocação do Jardim Vertical, também apelidado de Jardim de Abril: quatro obras, de outras tantas escolas, com motivos alusivos ao 25 de Abril, onde não faltavam pombas brancas e cravos vermelhos e até a reprodução de um tanque militar.

Na altura, alunos de cinco turmas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico do Agrupamento de Escolas Figueira Mar protagonizaram outros tantos momentos musicais, com músicas de Zeca Afonso (Vejam Bem e Traz Outro Amigo Também), Adriano Correia de Oliveira (Trova do Vento que Passa), Sérgio Godinho (Primeiro Dia) e Jorge Palma (A Gente Vai Continuar).

Na manifestação – em que participaram alunos, professores e funcionários das escolas, mas também pais e familiares das crianças e jovens – viam-se diversos cartazes pela paz e liberdade, mas também em defesa do clima e contra o fascismo, um dos objetivos da iniciativa do Plano Nacional das Artes, que pretendia que o evento “Todos à Manif” pudesse reproduzir antigas palavras de ordem e criar novas.

“Censura não, para isso não há perdão” era um dos cartazes presentes, empunhado por Maria Irene, aluna do 9.º B da escola Cristina Torres, que revelou à agência Lusa a inspiração que teve, em conjunto com três amigas, numa aula de Educação Visual, em defesa da liberdade de expressão.

“A censura nunca pode ser perdoada, temos de ter o direito de liberdade de expressão para sempre, nunca nos deve ser tirado”, defendeu Maria Irene, classificando de “muito triste” o tempo em que a censura e outras proibições existiam em Portugal, inimaginável para quem, nos dias de hoje, vive com um telemóvel como companhia permanente.

“Não poder conversar com os meus colegas, não poder conviver, não estar em grupos muito grandes, que isso também era considerado proibido. Acho que não conseguiria estar feliz nesse ambiente, também não sei como as pessoas conseguiam, naquela altura, ainda bem que aconteceu esta revolução [do 25 de Abril] porque senão…”, declarou.

Já Prince, um estudante angolano de 20 anos do Instituto Tecnológico e Profissional da Figueira da Foz (INTEP), está, este ano, pela primeira vez em Portugal e levou à manifestação um cartaz a pedir a liberdade e igualdade para todos os países.

Foi também a primeira vez que participou numa comemoração do 25 de Abril e fez o paralelo com Angola, onde no dia 04 de abril se comemora o Dia da Paz e da Reconciliação Nacional, assinalando o fim da guerra civil naquele país africano, que durou de 1975 a 2002.

“No meu país é a mesma coisa, só que não passamos [o dia] na rua, passamos em casa. Usamos roupas brancas, roupas africanas, para dizer que é o Dia Mundial da Paz”, contou o jovem. Sobre o evento da Figueira da Foz, gostou de participar no meio de tanta gente: “Já conheci pessoas novas hoje, amigos novos que não tinha conhecido ainda”.

O desfile continuou junto ao rio Mondego, até à Câmara Municipal, ‘liderado’ por João Rodrigues, um professor de Educação Física. Megafone em punho, ia ensinando às crianças mais pequenas que encabeçavam a manifestação palavras de ordem tradicionais como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” ou “O povo unido jamais será vencido”.

Depois de uma interpretação, em canto e violino, de Amor a Portugal, de Dulce Pontes, por dois professores do Conservatório de Música David de Sousa a partir da varanda dos Paços do Concelho, outro momento musical, este na praça da Europa – uma versão de Grândola Vila Morena, interpretada por dezenas de jovens (uma solista, grupo coral, orquestra e percussão) – fechou a iniciativa.

Dina Soares, coordenadora intermunicipal do PNA, na região litoral centro, frisou que um dos temas mais falados pelas crianças e jovens, nos tempos atuais, nas escolas, é o da paz, também muito presente na manifestação de hoje.

“É uma preocupação que se nota nas escolas, quando os ouvimos, eles dizem que têm medo que venha uma guerra, têm essa noção. É nosso apanágio no Plano Nacional das Artes ouvir os alunos e dar-lhes voz. Quando eles lutam pelo ambiente, pela paz, pela sustentabilidade, há que ter esperança, porque são mais conscientes do que muitos de nós, adultos, neste momento”, notou a coordenadora do PNA.

Ouvido pela Lusa, o presidente do município da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, frisou que nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril “as pessoas demonstraram bem a sua adesão à liberdade”.

“Que é talvez o que de mais importante o 25 de Abril nos faz sentir, para além da justiça e de outros valores. Voltámos a respirar liberdade de uma maneira, como alguém disse, parecido com os tempos originários da revolução. E aqui na Figueira, também, é extraordinário ver assim as crianças e os jovens a partilharem deste estado de espírito tão envolvente”, vincou.

Por entre vários pedidos de ‘selfies’ e fotografias por parte dos mais novos, Santana Lopes observou que muito dos momentos atuais, relacionados com questões ambientais e as guerras, “fazem muita impressão” aos jovens de hoje, mesmo se a participação massiva no evento de hoje lhe trouxe “uma alegria tranquilizadora”.

“Uma alegria que é serena, é sinal de que o mundo ainda é mundo”, constatou o autarca.

Foto: Escola Secundária Cristina Torres

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