O ministro do Ambiente assumiu hoje que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz com recurso a um sistema fixo (‘bypass’) é a mais indicada, e será realizada.
“Avaliada esta solução (da transferência de areias) não há qualquer dúvida de que o ‘bypass’ é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, disse à agência Lusa João Pedro Matos Fernandes.
O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, hoje apresentado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avalia quatro soluções distintas de transposição de areias e conclui, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.
O estudo situa o investimento inicial com a construção do ‘bypass’ em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros.
“Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, possa ser financiado”, frisou o ministro.
Na sua intervenção durante a sessão, Matos Fernandes disse que no próximo Quadro Comunitário de Apoio (Portugal2030) “há claramente verbas para pagar esta intervenção” e que “mesmo sendo ela de grande dimensão, corresponde a cerca de 8% das verbas disponíveis” de fundos comunitários para o litoral português.
“É óbvio que esta obra vai ser feita. E, por isso, feito este estudo, que avance o projecto e que se esclareçam as dúvidas que vamos ter”, observou o governante.
Matos Fernandes declarou “ainda sem certezas absolutas, que tudo concorre para que esta (o ‘bypass’) seja a melhor solução”, mesmo se face às alterações climáticas e às dinâmicas do mar, tenha definido o combate à erosão costeira como “um território de saber movediço”.
O sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por ‘bypass’, cuja instalação na praia, junto ao molhe norte do porto da Figueira da Foz, o movimento cívico SOS Cabedelo defende há uma década, será o primeiro em Portugal e idêntico a um outro instalado na Costa de Ouro (Gold Coast) australiana.
É constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a Norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego. A tubagem estende-se, depois, para sul, com vários pontos de saída dos sedimentos recolhidos, que serão depositados directamente nas praias afectadas pela erosão.
“Decididamente, as praias portuguesas são melhores do que as outras porque são praias de areia e é isso que nós queremos ter na praia. E, objectivamente, a sul da Figueira da Foz temos pouca areia”, argumentou Matos Fernandes, reafirmando a sua oposição à “artificialização” dos areais, nomeadamente através da construção de esporões e estruturas idênticas.
“As intervenções que foram sendo feitas, no sentido artificializador da costa, acabaram por trazer mais prejuízos do que benefícios. E, por isso, é essencial colocar areia na praia”, defendeu o ministro.
“Se o pudermos fazer de forma continuada e com estruturas fixas, conseguimos o mesmo objectivo de ter areia nas praias, sem andarmos, a cada ano, a fazer um concurso para dragar e repor. Assim ficamos com uma solução definitiva e que podemos ir ajustando às próprias necessidades. Foi aqui apresentada esta ideia de um milhão de metros cúbicos (m3) de areia por ano, vamos ver, se calhar há anos em que vai ser preciso mais, outros menos, mas ficamos também com essa flexibilidade, depois, na própria exploração do mecanismo que vamos aqui criar”, enfatizou Matos Fernandes.
No estudo hoje apresentado pela APA, é também referido que a praia a sul do quinto esporão da Cova-Gala perde cerca de 3,5 metros por ano – numa zona grandemente afectada pela erosão costeira, com destruição da duna e galgamentos do mar para o interior – e que os testes de transposição anual de um milhão de m3 de areia “mostram que é possível anular o efeito erosivo que se regista entre a Figueira da Foz e a Leirosa”, faixa costeira com cerca de dez quilómetros de extensão e uma das mais afectadas do país.