Miguel Guedes, 42 anos, treinador da iSurf Figueira da Foz, disse à Lusa que estava na água, a meio da manhã de ontem, com uma turma de alunos entre os oito e os 13 anos, quando, do molhe sul do porto comercial, várias pessoas gritaram, avisando para uma mulher em dificuldades “e já a pedir socorro” numa zona adjacente à infraestrutura portuária.
“A senhora estava a ser arrastada pela corrente. Larguei a prancha, nadei ao encontro dela, segurei-a já debaixo de água, puxei-a para cima e tirei-a dali”, afirmou Miguel Guedes, que é surfista há 30 anos e instrutor da escola da Associação de Desenvolvimento Mais Surf (ADMS).
Com a mulher já em cima de outra prancha, cedida por uma surfista que estava por perto, Miguel Guedes reparou então num rapaz “na mesma situação”, a cerca de 15 metros de distância, também em perigo de afogamento.
Foi então que um dos seus alunos, Santiago Boia, de oito anos, remou em direção ao rapaz, “entregou-lhe a sua prancha para o miúdo se segurar e aguentou-se a nadar”, relatou.
A mulher e a criança acabaram levadas por Miguel Guedes, as duas na mesma prancha, para a zona do banco de areia contíguo e ali entregues aos cuidados dos nadadores-salvadores em serviço na praia do Cabedelo, num dia em que a bandeira estava verde e se registava uma quase ausência de ondas, sublinhou.
“Aparentemente estavam bem mas em pânico, muito assustadas”, revelou o instrutor de surf.
No local onde as duas pessoas estiveram em perigo, “existe um buraco [fundão] com cerca de dois metros de profundidade e a corrente é muito forte. Com a maré a encher os banhistas não se apercebem do perigo, vão a andar e, de repente, ficam sem pé e são arrastados para fora [para longe da praia]”, alertou Miguel Guedes.
“Há quem tente nadar para terra e não sabe que se der três braçadas para o lado [oposto ao molhe] ficam no banco de areia e em segurança”, adiantou.
Miguel Guedes diz já ter feito “muitos salvamentos” mas hoje admite que se assustou: “Ao ver uma mulher a ir ao fundo e depois de a ir buscar, olhar para o lado e ver um miúdo a cair na mesma situação? assustei-me”.
Por outro lado, recusa ser chamado de herói.
“Herói é o Santiago, que tem oito anos e mostrou um sangue frio que muitos adultos não têm”, observou.
Já Eurico Gonçalves, proprietário da iSurf Figueira da Foz e dirigente da ADMS, também destaca o “à vontade” de Santiago Boia perante o incidente de hoje, revelando que a exemplo de vários alunos da escola, com oito e nove anos de idade, o rapaz faz treino específico de ambientação ao meio aquático.
“Já estão connosco há um ano. Treinaram no inverno e fazem parte de um projeto maior de literacia da rebentação e das correntes”, argumentou.
Eurico Gonçalves disse ainda que o local onde o incidente aconteceu é conhecido pelos surfistas como “o canal” – uma zona de forte corrente junto ao molhe sul – que aqueles utilizam para regressar à zona de surf, mais longe da praia.
“Para os surfistas é ótima mas é má para os banhistas, especialmente os que a desconhecem. O Santiago sabe como fazer porque lhe ensinamos isso, quando acaba a onda vem pelo banco de areia e volta pelo canal para fora”, enfatizou.
Lusa