A costa portuguesa é uma das zonas de pesca europeias que mais beneficiaria de restrições à actividade porque várias espécies são apanhadas com um tamanho inferior aos padrões europeus, segundo um estudo hoje divulgado.
Espécies como a pescada, o carapau e o verdinho são pescadas demasiado pequenas e não podem ser comercializadas, de acordo com a investigação do departamento de Ecologia Marinha Integrada do Centro Marinho da Sicília liderada por Giacomo Milisenda que é hoje publicada no boletim científico Frontiers in Marine Science.
“As populações piscícolas naturais precisam de tempo para se reproduzir e recuperar do impacto da pesca. Esta é a única maneira de equilibrar os recursos naturais com a exploração humana”, afirma o investigador da Estação Zoológica Anton Dohrn, em Nápoles.
No estudo, defende-se a criação de zonas restritas de pesca para reduzir a captura de peixes imaturos ou pequenos e melhorar a sustentabilidade das zonas de pesca demersais, junto aos fundos marinhos.
O estudo analisa outras três zonas além da costa portuguesa: o Mar da Catalunha, sul da Sicília e a zona norte do Mar Tirreno.
Pescada abaixo do tamanho de referência é capturada em toda a costa portuguesa, mas especialmente nas zonas ao largo do cabo da Roca e do Cabo Raso, enquanto no caso do carapau, a zona de Leixões é uma das mais afectadas pela sobrepesca.
Na quinta-feira, a GNR anunciou mais uma apreensão na lota da Nazaré de mais de cem quilos de pescada abaixo do tamanho regulamentar de venda, fixado em 27 centímetros.
De acordo com a lei, os peixes apanhados com tamanho inferior ao regulamentado têm que ser desembarcados nos portos mas não podem ser vendidos. O objectivo desta norma é “desencorajar a pesca de espécimes mais pequenos, que ocupam espaço a bordo e obrigam a mais trabalho, mas não geram rendimento”.
A regulamentação pretende que os pescadores usem métodos de pesca mais selectivos e evitem zonas em que as populações de peixe sejam mais imaturas.
Segundo a agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 75 por cento das zonas de pesca do Mediterrâneo e do Mar Negro estão sobre-exploradas.
Para a sua investigação, Milisenda e equipa combinaram estudos sobre o impacto da pesca de arrasto com os itinerários dos barcos de pesca nos últimos 15 anos.
Os investigadores italianos citam ainda um relatório preliminar divulgado em Janeiro pelo Parlamento Europeu segundo o qual a Europa está ainda “longe de atingir as suas metas de sustentabilidade marinha e biodiversidade”.
“A pesca excessiva, a destruição de habitats e o excesso de peixe apanhado e deitado ao mar são ainda problemas recorrentes”, assinalam os investigadores.