O militar de Abril Diniz de Almeida, que comandou as tropas no RALIS, em Lisboa, na resposta ao golpe do 11 de Março de 1975, morreu hoje vítima de Covid-19.
Diniz de Almeida foi o capitão que liderou e saiu da Figueira da Foz com as tropas revoltosas na madrugada de 25 de Abril de 1974.
“De Diniz Almeida lembro a enorme participação no dia 25 de Abril (de 1974) e o seu envolvimento intenso, nem sempre muito consensual, em todo o processo revolucionário”, disse à Lusa Vasco Lourenço.
Eduardo Diniz de Almeida nasceu em Lisboa, em 7 de Julho de 1944, fez parte do Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura em 1974, e tornou-se um dos rostos militares associados ao PREC – Processo Revolucionário em Curso.
Para a história, ficarão as imagens de uma reportagem da RTP, em 11 de Março, o golpe de direita organizado pelo general António de Spínola, e em que Diniz de Almeida, então com 30 anos, dialoga com as forças de paraquedistas que cercaram o Regimento de Artilharia Ligeira, também conhecido por RALIS, sobrevoado por aviões da Força Aérea, às portas de Lisboa.
Nesse dia, em que morreu um soldado e vários ficaram feridos, é Diniz de Almeida que surge publicamente como o comandante vitorioso e é a seguir a esta tentativa de golpe que surgem as nacionalizações, da banca, dos seguros, e avança a Reforma Agrária, no Alentejo e Ribatejo.
É também este capitão de Abril, alcunhado de “Fittipaldi das Chaimites” que aparece, com as chaimites, em assembleias de trabalhadores e em manifestações.
E é também no RALIS que pela primeira e única vez os soldados fazem um juramento de bandeira revolucionário, de braço estendido e punho cerrado, em que juram pela pátria e prometem estar “sempre, sempre” ao lado do povo e da classe operária, “pela democracia e poder para o povo, pela vitória da revolução socialista”.
Num país a viver uma revolução vermelha, e que desperta o interesse de intelectuais europeus, é também no RALIS que são recebidos o filosofo Jean Paul Sartre e Serge July, director do Liberation.
Associado à esquerda militar durante o processo revolucionário, foi um dos militares que, segundo o comandante do COPCON, Otelo Saraiva de Carvalho, ainda tenta contrariar (sem sucesso) as forças de comandos no 25 de Novembro de 1975, golpe ou contra-golpe, conforme os lados da contenda, que ditou o fim da revolução e o princípio da consolidação da democracia.
Diniz de Almeida foi chamado ao Palácio de Belém pelo Presidente da República, Costa Gomes, e ali detido, no dia 26 de Novembro.
Enfrentou vários processos disciplinares, de que saiu ilibado, e passou à reserva com a patente de major. Depois da vida militar, licenciou-se em psicologia clínica.
Desde então, manteve alguma actividade política, como independente, na Coligação Democrática Unitária (CDU), liderada pelo PCP, tendo sido vereador na câmara de Cascais entre 2001 e 2005.
É também autor do livro “As origens e evolução do Movimento dos Capitães” e da trilogia “Ascensão, apogeu e queda do MFA”, e citado no livro sobre “O 25 de Abril na Figueira”, recentemente lançado e de autoria de António Jorge Lé.
Em comunicado, a Associação 25 de Abril destaca o militar, agora coronel na reforma, como “um dos principais obreiros do levantamento militar que deu origem ao 25 de Abril de 1974”.
“Era um homem de grande carácter, corajoso e leal aos seus princípios e aos seus amigos. A sua trajectória honra as Forças Armadas, e muitos portugueses se identificaram com ele na luta contra as forças antidemocráticas do nosso país”, lê-se no texto, que também refere que “os seus ideais permanecem vivos e actuais” e dão “força para continuar a defender Abril”.